terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O JUP está no Fantasporto

Fotografia de Pedro Ferreira

O JUP e o Rascunho uniram-se para cobrir o Fantasporto 2010, à semelhança do que aconteceu no ano passado. Visita o blog para acompanhares a 30ª edição deste Festival Internacional que move a cidade do Porto.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

10 Tácticas e o Jornalismo como motor de Consciência Colectiva

Falou-se de acção, informação e liberdade na tarde de 23 de Janeiro no Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAP) que convidou investigadores, designers, activistas, a comunidade estudantil e outros curiosos, a reflectir sobre o papel do jornalismo e da informação na criação de impacto e de mudanças positivas.

O lançamento global do documentário 10 Tactics proporcionou um programa alternativo no dia em que na Miguel Bombarda se celebrava mais uma tarde de inauguração simultânea de exposições, diversas intervenções artísticas, novas colecções nas lojas, moda e design e animações de rua, trazendo centenas de visitantes à sede do NJAP.

O anfitrião é uma entidade sem fins lucrativos que publica há 22 anos o JUP - o órgão de comunicação estudantil impresso mais antigo do país. Como plataforma informativa, o JUP demarca-se pela sua independência e carácter experimental, envolvendo dezenas de jovens universitários da cidade do Porto que colaboram voluntariamente e assim ganham experiência em todo o processo de produção jornalística.

A projecção do filme 10 Tactics surgiu com motor de reflexão sobre o poder da informação na disseminação de temas muitas vezes polémicos e sensíveis que o jornalismo convencional tem tendência a ignorar. Celebrando-se em 2010 o Ano Europeu da luta contra a Pobreza e a Exclusão Social, ao qual o JUP e o NJAP não estão indiferentes, considerou-se que as 10 Tácticas propostas poderiam inspirar e alertar para a relevância do papel daqueles que ao trabalharem e partilharem informação com o mundo estão a proporcionar espaços de consciência colectiva sobre a cidadania, a sociedade e o mundo.

Depois da visualização do filme onde foi possível conhecer alguns exemplos daquilo que activistas de direitos humanos estão a fazer no mundo digital para marcar a diferença, a primeira reacção na assistência foi o reconhecimento de que existem riscos no info-activismo. A insegurança é consequência do facto dos assuntos discutidos serem desconfortáveis para muitos indivíduos com poder, governos ou grandes organizações. O termo anglófono usado para descrever o trabalho dos info-activistas é "advocacy", nem sempre fácil de traduzir na língua portuguesa, mas que neste contexto se assemelha a algo como a prossecução da luta por uma causa, a defesa dos direitos humanos. Já o conceito de info-activismo resulta, por um lado, da disseminação da informação nessa luta ou compromisso, e, por outro lado, das estratégias adoptadas para fomentar acção, reacção, efeitos. Pela defesa de uma causa.

Ana Rêgo, médica e activista que tem trabalhado em missões humanitárias em países como o Afeganistão, Sudão, Etiópia, Zimbabwe e Timor Leste, relatou a sua experiência no terreno, chamando a atenção para a habitual escassez de infra-estruturas em áreas isoladas onde muitas vezes os direitos humanos não são respeitados, o que dificulta o acesso às plataformas digitais para a denúncia. Acrescentou ainda que quando esse obstáculo é ultrapassado e surgem os canais de comunicação, o passo seguinte é "sobreviver" à denúncia, e terminou dando exemplos de colaboradores de ONGs que perderam os seus empregos por se recusarem a calar as injustiças que presenciaram nas suas missões.

A ideia de que é dever do activista falar sobre temas chave para não os deixar cair no esquecimento foi frisada por Roberto, membro do Centro de Média Independente – colectivo Indy Media Portugal. Com um cunho pessoal, o testemunho de Roberto não descurou a pertinência das questões em redor da segurança e do anonimato e questionou os processos de censura e de captura de activistas que trabalham a partir de cybercafés ou outros espaços proprietários. Se por vezes as pessoas erradas são acusadas, o activista deve compreender a responsabilidade implícita nas suas acções.

Transportando o anonimato para a importância da transparência e participação democrática, Ricardo referiu a plataforma They Work for You. Trata-se de um projecto mySociety que pretende criar pontes entre os cidadãos do Reino Unido e as discussões que tomam lugar no parlamento, disponibilizando o acompanhamento das posições assumidas pelos deputados ao longo do tempo. Foi lançada a questão: o que mais precisa de ser feito em Portugal para lançar projectos neste âmbito?

Ainda antes da projecção do documentário, o Ricardo, juntamente com a Ana Carvalho, ofereceram uma Oficina sobre Design para uma Redacção Livre no JUP. Falaram sobre a "introdução de ferramentas livres para realizar vários tipos de trabalhos relacionados com a esfera editorial e a prática associativa". Fazem parte de um colectivo pela cultura livre chamado Hacklaviva e em parceria com o JUP estão a montar uma sala de redacção inovadora na nossa sede, para possibilitar a realização de todo o trabalho editorial usando apenas software livre - desde o tratamento de fotografia, à criação de gráficos e tipografia, paginação, edição de áudio e montagem de vídeo com ferramentas livres. Esse workshop representou um contributo valioso no que diz respeito à utilização e adopção de tecnologias e ferramentas para o info-activismo que o filme apresenta.

Tivemos também a participação de Tiago Assis, professor e investigador nas Belas Artes da Universidade do Porto e impulsionador do projecto Identidades. Tiago falou de um projecto de formação vídeo com comunidades do Brasil, nomeadamente os Quilombolas que adoptaram esta nova ferramenta como arma e moeda de troca numa zona do país onde existem grandes conflitos de terra e propriedade.

No final do debate os visitantes tiveram ainda oportunidade de visitar a galeria onde foi inaugurada uma instalação multimédia de Rebecca Moradilazeh composta por "(...) filmagens feitas por várias pessoas contendo múltiplas personagens e situações ou locais por onde tivesse passado e onde estaria".

Terminada uma tarde de inspiração no “bunker” de ideias do JUP - citando alguém da assistência que assim descreveu o evento - foram distribuídos guias e tutoriais da Tactical Technology Collective a alguns visitantes e semeada a grande vontade de continuar a informar sobre temas que realmente interessam e repensar estratégias futuras para chegar a mais audiências.

Leituras relacionadas: A day of info-activism discussion in Porto



Fotos de Pedro Ferreira