JUP de Março já nas faculdades
Editorial
Estigmatizados até aos cabelos
O tempo vai deixando o seu rasto. Enquanto cursos se tornam obsoletos e têm de ser reestruturados, outros nascem para colmatar novas necessidades. Os bairros sociais, bom, esses, não mudam. Políticas sociais criadas e controladas do escritório vão fracassando; iniciativas de inserção social são abandonadas quando mudam os partidos no poder ou acabam os prazos dos estágios nas associações de apoio. São expectativas frustradas que se vão acumulando e só podem dar mau resultado. Imagina-te desempregado, a ver as rendas a subir, com as paredes a rebentar de humidade e o filho, de 14 anos, que já não quer saber escola. Se todas as semanas alguém te à batesse porta, cheio de vontade de te tirar do fosso, mas na semana seguinte fosse embora e te deixasse exactamente como te encontrou.
A visita que o JUP fez aos bairros que se espalham pelo Porto tinha o objectivo de mostrar como se vive nas “ilhas”. A experiência foi simplesmente avassaladora e a primeira conclusão a que chegámos foi a de que seria indescritível traduzir o desespero (que há muito resvalou para apatia) de alguma daquela gente. Mas, atenção, bem perto de todos esses autênticos argumentos para o Fantasporto, descobrimos também pessoas com vidas estáveis, que chegam ao ensino superior ou têm um trabalho seguro.
Inspirado por este tema, Virgílio Ferreira, fotógrafo portuense, é mais um dos muitos artistas que se inspirou nos bairros sociais para um dos seus trabalhos. É a ele que devemos a fotografia da capa, que integra a colecção “Porto Bairro a Bairro”. São espaços tão próximos de nós quanto desconhecidos, um bom mote para qualquer um se inspirar; e lá volta, outra vez, a ideia dos bairros como zoológicos ou laboratórios em que se vão experimentando umas coisas.
A dita fotografia, que passava bem por frame de um videoclip de “50cent”, mostra um dos temas que nos surpreendeu no trabalho desenvolvido nos bairros – o “show off” oco e assustadoramente desajustado da nova geração de “desalinhados”. Nunca tinhamos percebido o que fazia com que todos eles andassem com os últimos “Nike” e um telemóvel topo de gama. Não acreditamos que tenham de correr para lado nenhum ou de ver com quem falam. A questão é bem mais séria e sem piada alguma. Esses artifícios são um recurso para quem tem zero perspectivas de futuro, um suporte familiar miserável e um boné que esconde todas as tristezas da sua situação. Estigmatizados até aos cabelos, vão errando pelos shoppings; pode ser que alguém acredite que são os heróis lá do bairro ou que, por instantes, lhe inveje aquele último modelo da “Nokia” que trazem orgulhosos.
Inspirado por este tema, Virgílio Ferreira, fotógrafo portuense, é mais um dos muitos artistas que se inspirou nos bairros sociais para um dos seus trabalhos. É a ele que devemos a fotografia da capa, que integra a colecção “Porto Bairro a Bairro”. São espaços tão próximos de nós quanto desconhecidos, um bom mote para qualquer um se inspirar; e lá volta, outra vez, a ideia dos bairros como zoológicos ou laboratórios em que se vão experimentando umas coisas.
A dita fotografia, que passava bem por frame de um videoclip de “50cent”, mostra um dos temas que nos surpreendeu no trabalho desenvolvido nos bairros – o “show off” oco e assustadoramente desajustado da nova geração de “desalinhados”. Nunca tinhamos percebido o que fazia com que todos eles andassem com os últimos “Nike” e um telemóvel topo de gama. Não acreditamos que tenham de correr para lado nenhum ou de ver com quem falam. A questão é bem mais séria e sem piada alguma. Esses artifícios são um recurso para quem tem zero perspectivas de futuro, um suporte familiar miserável e um boné que esconde todas as tristezas da sua situação. Estigmatizados até aos cabelos, vão errando pelos shoppings; pode ser que alguém acredite que são os heróis lá do bairro ou que, por instantes, lhe inveje aquele último modelo da “Nokia” que trazem orgulhosos.
1 comentário:
Axo mt bem que o nosso JUP se adapte às novas realidades e tenha um blog!!
JA não era sem tempo!
Abraço deste vosso colaborador
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