segunda-feira, 12 de março de 2007

JUP de Março já nas faculdades

Editorial
Estigmatizados até aos cabelos

O tempo vai deixando o seu rasto. Enquanto cursos se tornam obsoletos e têm de ser reestruturados, outros nascem para colmatar novas necessidades. Os bairros sociais, bom, esses, não mudam. Políticas sociais criadas e controladas do escritório vão fracassando; iniciativas de inserção social são abandonadas quando mudam os partidos no poder ou acabam os prazos dos estágios nas associações de apoio. São expectativas frustradas que se vão acumulando e só podem dar mau resultado. Imagina-te desempregado, a ver as rendas a subir, com as paredes a rebentar de humidade e o filho, de 14 anos, que já não quer saber escola. Se todas as semanas alguém te à batesse porta, cheio de vontade de te tirar do fosso, mas na semana seguinte fosse embora e te deixasse exactamente como te encontrou.
A visita que o JUP fez aos bairros que se espalham pelo Porto tinha o objectivo de mostrar como se vive nas “ilhas”. A experiência foi simplesmente avassaladora e a primeira conclusão a que chegámos foi a de que seria indescritível traduzir o desespero (que há muito resvalou para apatia) de alguma daquela gente. Mas, atenção, bem perto de todos esses autênticos argumentos para o Fantasporto, descobrimos também pessoas com vidas estáveis, que chegam ao ensino superior ou têm um trabalho seguro.
Inspirado por este tema, Virgílio Ferreira, fotógrafo portuense, é mais um dos muitos artistas que se inspirou nos bairros sociais para um dos seus trabalhos. É a ele que devemos a fotografia da capa, que integra a colecção “Porto Bairro a Bairro”. São espaços tão próximos de nós quanto desconhecidos, um bom mote para qualquer um se inspirar; e lá volta, outra vez, a ideia dos bairros como zoológicos ou laboratórios em que se vão experimentando umas coisas.
A dita fotografia, que passava bem por frame de um videoclip de “50cent”, mostra um dos temas que nos surpreendeu no trabalho desenvolvido nos bairros – o “show off” oco e assustadoramente desajustado da nova geração de “desalinhados”. Nunca tinhamos percebido o que fazia com que todos eles andassem com os últimos “Nike” e um telemóvel topo de gama. Não acreditamos que tenham de correr para lado nenhum ou de ver com quem falam. A questão é bem mais séria e sem piada alguma. Esses artifícios são um recurso para quem tem zero perspectivas de futuro, um suporte familiar miserável e um boné que esconde todas as tristezas da sua situação. Estigmatizados até aos cabelos, vão errando pelos shoppings; pode ser que alguém acredite que são os heróis lá do bairro ou que, por instantes, lhe inveje aquele último modelo da “Nokia” que trazem orgulhosos.

1 comentário:

Docente disse...

Axo mt bem que o nosso JUP se adapte às novas realidades e tenha um blog!!

JA não era sem tempo!

Abraço deste vosso colaborador